terça-feira, 31 de maio de 2016

transitivo quase indireto sem objeto de espera

achei que você vinha
bem-te-vi no fim da linha
mas continuei a andar
vezes corro desesperada
vezes desabo no caminho
esperando você alcançar 
é uma espera dinâmica  
enquanto lembro do teu beijo
mas não te deixo chegar
acho que não faço nada
mas já estou tão cansada
de sozinha me esforçar 
espero por tanta coisa
e me exausto sem motivo
caio e desisto de caminhar 
saúde, solução, resposta 
e esperei até a esperança
de ver meu amor passar

domingo, 29 de maio de 2016

33

indignar-se
diante o extremo
ora, essa é fácil 
só o doentio faz
nem todo homem
mas cultura do estupro
nasce dos detalhes
da bandeja de carne
mal passada e saborosa
exibida na vitrine das ruas
que você declama
oh lá em casa 
da exaltação a seu falo
solução dos problemas
estresse, depressão, opinião 
tem que experimentar
nasce da saia curta
que pede o toque, 
o olhar malicioso 
e uma passada de mão 
não pode recusar 
nasce do seu instinto 
ele não sabe controlar
você sabe como homem é
ela tem perna pra fechar 
não tem força pra tirar?
mas ele é meu namorado
tio, professor, amigo 
não fez por mal 
não preciso contar
nasce do batom escuro
de puta, exibida
quer provocar
do copo de álcool 
mais um, a garrafa
só um beijinho 
como ousa negar? 
tá dançando promíscua?
não vá reclamar 
não gosta de elogio?
fica em casa!!!
a rua não é seu lugar
trancada no quarto
pro parente não pegar
a piada que não bate
em ninguém
pare de exagerar 
da sanidade mental estragada
da palavra investigada
meu relato não vale nada 
me obrigam a recuar
me batem todos os dias
calam minha voz
me fazem sangrar
com as mãos
com as palavras
com seus órgãos
me tiram a visão
forçam o meu paladar
vocês podem nos matar 
sabem disso 
e o fazem 
numa estatística
que já cansei de contar
tentam nos apartar
de uma em uma
por dois, três e trinta
pois sabem 
que a gente entende
cada pancada 
cada ferida 
cada cicatriz
que se abre novamente
e custa a fechar
somos nós por nós 
não estamos,
somos juntas
a força do luto 
e a força de lutar
vocês não vão nos derrubar.

quinta-feira, 5 de maio de 2016

questão de pontuação: minhas vírgulas sem pontos finais

beleza atrativa à primeira vista
que vive num paradoxo inventado
não se esquece e não transborda
gritos, filmes, imagens e palavras
girando rápido na roda viva mental
da menina que parece não pausar
tudo ao redor acelera, e assim segue
percebo que nada me acompanha
mas corro como se ficasse para trás

eu sei que a vida é um labirinto
e estou com a planta desde ontem
estudando cada ruela desenhada
ignorando você estudar a mim
o meu olhar não evita enquadrar
todos os desvios do meu caminho
enquanto você admira os castanhos
que sorriem durante a sua fala
para disfarçar a mente que não para

pareço perdida ao checar cada detalhe
quando sei exatamente onde chegarei
eu não descanso e sei que me exausto
mas respirar voluntariamente é tempo
perdido, um segundo e já foram dois
as trinta e três aferições que faço
é que não parecem ocupar espaço
na mente que nem cabe uma agulha
acupuntura, costura ou de palheiro

não vai fazer sentido algum ao ler
assim como tudo que tento entender
justamente na única hora de descansar
eu queria dormir, mas isso é agora
eu deixo de viver por viver demais
não parece loucura para você?
deve ser divertido se envolver
nesse mistério de uma montanha-russa
que é frio na barriga mesmo sem descida

eu falo demais, eu sei, sinto o triplo
ponho a culpa nos astros e me culpo
esquecendo do coração acelerado
que não me permite parar um segundo
o tique-taque ecoa em minha mente
enquanto me prende mais do que deveria
a curiosidade natural chama atenção
e o mistério envolve por fração de tempo
que percebe rápido a melancolia

e chega a hora que o jogo perde a graça
quando você não se torna parte dele
por tanta proteção, eu o amedrontei
não te culpo ao desinteressar logo
sei pareço vazia quando escolho flutuar
e me fechar na bolha que eu mesma criei
mas é tudo milimetricamente planejado
desde a caneta alinhada na mesa do quarto
ao último passo dado em que tropecei